quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O QUE É A VERDADEIRA RELIGIÃO ?

Resenha

Storniolo,ivo.O livro de jó,o desafio da verdadeira religião.São Paulo:Paulinas.1992,5ª ed.2008.

Síntese da obra

Um livro fascinante e desconcertante,é assim que o autor nos apresenta o livro de jó,fascinante porque tem uma fisionomia particular e desconcertante por apresentar coisas pertubadoras,como,levar a questionar “o que é a verdadeira religião”

Uma pergunta que Ivo nos faz remoer no livro todo sobre esse ponto,fazendo que nós revise o que chamamos de religião.

Um problema antigo e universal:O justo que é provado e sofre,apesar de ser inocente,é um tema comum tanto no oriente como no ocidente,o autor vai mostrar que ¾ da humanidade sofre deste problema universal,no Egito,na Mesopotâmia e em outros lugares do oriente médio foi encontrado relatos como a “síndrome de Jó”.

O livro tem uma fisionomia complexa,textos em prosas que moldura o resto do livro,é provável que o conto seja muito antigo ou se baseia numa lenda antiga,segundo alguns historiadores.

A estrutura do livro é a seguinte:

  • Prólogo:1 cap.
  • Primeiro ato:Jó e os três amigos(3-11),2 cap.
  • Segundo ato:Jó e os três amigos(12-20),3 cap.
  • Terceiro ato:Jó e os três amigos(21-27).4 cap.
  • Interlódio: a sabedoria(23),5 cap.
  • Monologo: de Jó (29-31),6 cp.
  • Monologo: de Eliú(32-37),7 cp.
  • Quarto ato;javé e jó(38,1-42.6) 8 cap.
  • Epílogo;(42-7-17), 9 cap.

Capitulo 1

1.1-Existe religião gratuita?

Jó é integro, reto,bem adaptado ao meio social,praticando a justiça e a honestidade,de onde viriam essa perfeição pessoal e social?do fato de temer a Deus?

Conforme a visão teológica da época o premio para a justiça é a prosperidade,então,Jó era recompensado por isso?O satã,porem levanta uma duvida:”é a troco de nada que Jó é tão religioso?”se os seus bens forem atigidos,será que ele continua reto e temente a Deus?Ou a sua religião é motivada por puro interesse,uma fidelidade em troca de prosperidade?

Será que o pobre é capaz de fidelidade gratuita,independente de qualquer recompensa material?

Será que toda gente é capaz de uma religião gratuita?

Jó,no cap.1,21.mostra que o pobre aceita plenamente a condição em que vive,pois ,tudo que ele tem vem de Deus.

Chega-se assim a conclusão que,mesmo ele ficando empobrecido e enfraquecido,continua fiel a Deus e mostrou que é capaz de religião gratuita sem recompensa.

Capitulo 2

Primeiro ato

2.1-Estou cansado da minha vida

Começa um longo debate entre Jó e seus amigos,o foco da atenção é á luz da teologia da época,centralizado no dogma da retribuição,buscando compreender os motivos de tudo que aconteceu com Jó.

Não é o que sempre acontece com o pobre e doente?pensamos logo que eles são responsáveis pela a própria situação.

Elifaz anuncia rapidamente o dogma da retribuição,segundo o qual Deus recompesa o justo e castiga o injusto.

Percebemos logo quão implacável é o dogma da retribuição,para os que estão bem,ele é interessante e tranqüilizador,para os que estão em desgraça não tem escapatória.

De acordo com este dogma,os empobrecidos e enfraquecidos seriam os únicos culpados por sua própria desgraça,mas,o que estar em jogo afinal é a inocência destes empobrecidos.

Na visão de baldad,o principio explica os fatos:Deus estar castigando jó pelos cremes dos seus filhos,ele morrem,mas,Jó foi agraciado com o tempo para se arrepender e reaver tudo o que possuía,o conselho é a praticar uma religião interesseira.

Esse argumento se alicerça na tradição dos antepassados e na observação experimental dos antepassados,mas,será que a justiça de Deus implica necessariamente uma injustiça do homem?será que o pobre é sempre culpado pelos supostos creme de sua prole?

A quem beneficia esse Deus?

Quem estaria ganhando com a concepção de um Deus que fecha o dialogo e tem o prazer de esmagar ¾ da humanidade,vemos aqui,três desafios:1)ou o inocente não é inocente,2)ou os filhos dele são errados,3)ou ele próprio esconde um grande creme.

Neguem questiona de onde vem a injustiça,se tudo vem de Deus,Deus seria injusto castigando o inocente,mas,seria Deus mesmo?

A injustiça vem de outros que,de bom grado atribuiriam o seu ato a Deus,como não poderiam incriminar a Deus,incriminam então o próprio inocente,parece loucura pensar nisso tudo,mas,talvez seja o caminho.

Capitulo 3

Segundo ato

3.1-“Terra,não cubra o meu sangue”

Jó não só desmascara e acusa os seus interlocutores,mas também expõe esperança paradoxas para a época,a doutrina tradicional do dogma da retribuição que nada tem a oferecer,enquanto isso Jó ultrapassa a lógica religiosa do seu tempo e convida a dar corajosos saltos em direção á novidade.

Jó encaminha o que julgava ser a única saída:Um pleito judicial com o próprio Deus,uma discussão para ver com quem estar a razão,ele lança diretamente o desafio a Deus,convidando-o para um debate judicial,pretensão desmesurada?não,apenas o grito do miserável em busca de justiça,nesse desejo indomável Jó que apenas ultrapassar as mediações religiosas.

Ele pede que a terra não cubra o seu sangue derramado, isto é,a sua vida assasinada,o sangue derramado mostraria que jó foi vitima de um crime,contudo,quem seria a testemunha de Jô?estaríamos despostos a ser fiadores de “Jó”,séculos depois Jesus ouviu o defasio e respondeu afirmativamente,julgando,testemunhando,defendendo e redimindo todos os que encontrou na mesma situação,por causa disso Jesus foi morto.

Capitulo 4

.

Terceiro ato

4.1-“Vou me declarar inocente até o meu último suspiro”

Ele não tem disposição para ouvir,mas quer falar e ser ouvido,os amigos tinham descrito o destino trágico do injusto,Jó queria um debate judicial com Deus afim de provar a própria inocência,elifaz se apresenta como o representante de Deus,para o debate,segundo elifaz,Jó está cego,e não vê que experimenta a desgraça porque acha que Deus não vê nem julga os homens.

Vemos aqui como Jó compara a sua situação com a do povo oprimido,Baldad percebeu que Jó atacara a idéia de providencia divina,notemos porem,o interesse mercantilista implicado no dogma da retribuição,tão relacionamento não deixa o mínimo de espaço para gratuidade,a religião se transforma em sistema mecânico para manipular o próprio Deus.

Jó,porem não se contenta com os intermediários da religião,porque já conhece as respostas que darão,ele também ironiza os amigos,repetindo com sarcasmo criticas que já fizera,porque o que ele quer é uma nova experiência de Deus que revele e faça desabrochar a sua nova vida.

Capitulo 5

5.1-o insodavel, mistério da sabedoria.

O poema contido nesse capitulo constitui um todo unitário em si mesmo e poderia estar tanto aqui como em qualquer outro lugar.

Jó afirmara que iria explicar o poder e os projetos de Deus,é possível que,diante de tal pretensão,alguém mais tarde tenha inserido aqui este mistério insodavel.

O homem é qualitativamente superior a qualquer outro ser da natureza e unindo sua inteligência á coragem realiza verdadeiros milagres no domínio da tecnologia,todavia a tecnologia falha na busca da sabedoria e do discernimento,a sabedoria portanto não se encontra na dimensão em que o homem vive,mesmo que se encontrasse neste mundo,como o homem poderia adquiri-la?

Capitulo 6

Monologo de Jó:

6.1-“Que o todo poderoso me responda”

Jó permanece solitário e em sua solidão,faz um balanço dramático de sua vida e situação abarcando o passado e o presente,e voltando-se para o futuro,prepara sua arma que não mais que três protestos ou juramentos d integridade-pessoal,social,religiosa,culminando com um desafio.

-Integridade social:A relação social é contemplada em dois caso,primeiro , não violava o direito dos escravos,ao contrario,superou a lei,segundo,não lesou nem desrespeitou os direitos dos pobre e fracos.

-Integridade pessoal: no que se refere a sua vida pessoal,ele é irrepreensível,evitou a concupisciencia.

-integridade religiosa: na campo das relações com Deus ele não praticou a idolatria,embora rico nunca considerou a riqueza como absoluta.

Resumindo,os três protestos de integridade são uma confissão do justo a respeito da sua própria justiça,Jó não tem nada a acrescentar ,e grita o seu desafio diretamente para Deus.

Capitulo 7

Monologo de Eliú:

7.1-Educação pelo sofrimento.

Pela seqüência normal do livro esperávamos agora a resposta de Deus ao desafio de Jó,em vez disso temos o longo discurso de Eliú,oseu enfoque do tema é diferente:Jó e os amigos perguntam o “porque” do sofrimento,enquanto Eliú pergunta “para que”,buscando uma finalidade para o sofrimento.

O problema é que as pessoas ou não percebem,ou não entendem ou não aceitam o que Deus fala,porque,Deus sempre fala,seja atraves de sonhos,visões e também no sofrimento,por isso o homem precisa de um mediador que interceda por ele e lhe salve a vida.

Não seria essa a nova tarefa do teólogo para ¾ da humanidade?

Eliú faz um um elogio o sofrimento,meio com o qual Deus educa tanto o injusto com o justo,embora a reação deles seja diversa.

Capitulo 8

“Agora os meus olhos te vêm”

8.1-Deus,por fim se manifesta,respondendo ao desafio de Jó,curiosamente,porem,Deus não traz uma resposta,ao contrario,faz novas perguntas,isso mostra que Deus não é resposta,mas,pergunta,ele é o mistério que interroga,e quem deve procurar respostas é o próprio homem.

Desejoso de um confronto,Jó é atendido,mas,ai,depara com um sem fim de perguntas que o desafiam,o que pretendem esse desafio,de um lado,mostrar a grandeza e sabedoria de Deus e do outro,a pequinez e ignorância do homem.

Percebemos então que ele quer deixar claro que toda teologia ou concepção de Deus é sempre relativa e limitada,podendo até mesmo impedir a experiência com o Deus vivo.

O final do Jô mostra que Deus sabe ler o mais intimo desejo do homem e responde a esse desejo,tornando-se solidário e entrando em comunhão com ele.

Capitulo 9

A retribuição

O livro traz o apelo para que os exilados não deixassem uma concepção mercantilista da religião e que não imaginassem o futuro como volta da prosperidade anterior,em vez disso,deveriam mergulhar numa nova experiência do Deus vivo e justo,então, a parti disso,reconstruir com Deus a própria vida numa luta solidária contra a força bruta e contra o mal,buscando a justiça.

Apreciação critica

O objetivo da obra é claramente exposto pelo o próprio autor “existe religião gratuita ou ela é sempre um comercio interesseiro?” e “religião,nasce do conhecimento intelectual de Deus ou nasce de uma experiência vivencial de Deus?”.

Partido deste presuposto,Ivo,mostra que um ¾ da humanidade sofre da “síndrome de Jô” vivendo oprimida,excluída no meio social,porque ainda nos nossos dias reina o dogma da retribuição,o qual se baseia numa religião mercantilista e interessera.

O livro nos leva a questionar,se o pobre é capaz de fidelidade gratuita,ele também mostra que este ¾ da humanidade com Jô clama por solidariedade,mas,ninquem se solidariza com ele,a não ser Deu,Um ponto que chama atenção é a questão sobre o “mal” e o “sofrimento”,os quais Deus domina soberanamente.

Poderíamos chamar os três amigos de Jô de teólogos que pretendem esgotar toda a fenomenologia do relacionamento humano com Deus,mas,como escapar desse conhecimento religioso que oferece ao pobre e ao fraco mais do que ideologia,Jó resistiu até o fim confiando em sua experiência com o Deus vivo.

O autor nos leva a ver que o verdadeiro satã são aqueles que detêm e manipulam o poder econômico,político e ideológico-religioso,reduzindo ¾ da humanidade á pobreza,doença e desmoralização.

Storniolo faz um questionamento interezante,poderia o teólogo ser um mediador,revelando ao pobre que sofre inocentimente o porque e para que do seu sofrimento?sim,cantanto que o teólogo não fosse da linha dos três amigos de Jô,a linha da culpabilização e nem a linha da educação pelo sofrimento,pois os pobres precisam de teólogos que parta da experiência que eles tem de Deus,um Deus que se solidariza e luta contra a gigantesca violência que oprime.

O escritor finaliza o livro mostrando que muitos na realidade pensam que o caminho da religião é para cima e não para baixo,ele ,para dar ênfase a isto,cita Tagore o qual diz”meu Deus,aqueles que possuem tudo menos a ti,riem-se daqueles que nada possuem alem de ti”(R.tagore,pássaros perdidos,226)

Isso nos leva a fazer uma seria revisão daquilo que chamamos de religião,dessa forma,o autor lembra uma verdade que sempre é esquecida que”Deus é Deus,e o homem não é Deus”,fica claro que toda teologia ou concepção de Deus é sempre relativa e limitada,Tomas de Aquino já dizia que a fé não termina no enunciado,mas na própria coisa,religião não é primeiramente ciência,mas experiência,a ciência teológica se refere á fé e á religião,mas, não as substitui porque a religião é um ato vital,pois a verdadeira teologia que liberta o pobre e o fraco deve ser feita a partir da experiência que o pobre e o fraco tem de Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário